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04/04/2022

Vet News 04 de Abril, 2022

Vet News 04 de Abril, 2022

 

1.0  Pecuária brasileira pode agregar valor à carne bovina conforme perfil nutricional

 Nesta sexta, dia 1º, em episódio da série Embrapa em Ação gravada na unidade Pecuária Sul, a pesquisadora Élen Silveira Nalério, médica veterinária, mestre e doutora em ciência e tecnologia agroindustrial, falou sobre a mudança do perfil nutricional e da palatabilidade da carne bovina conforme o sistema de terminação dos animais.

De acordo com a especialista, a experiência do consumidor é alterada conforme as variações na engorda do gado. “Investigamos diferentes sistemas de terminação do produtor, seja bioma Pampa ou até mesmo porção de cima estado, na Mata Atlântica, os diferentes sistemas terminação, como campo nativo, campo nativo melhorado, pastagem cultivada, pastagem suplementada e confinamento”, confirmou Ellen.

Os animais utilizados nas pesquisas foram bovinos puros da raça Angus. Ou seja, a mesma genética na mesma propriedade, variando somente o sistema de produção. Nos animais engordados em pastagem nativa, a gordura intramuscular obtida foi 1,8%, ao passo que nos animais confinados, o outro extremo da pesquisa, o indicador marcou 2,8%. Além da quantidade, o tipo de gordura também se mostrou diferente.

 

 “Para o animal que pasteja, quanto mais verde é o pasto, maior o conteúdo de ácidos graxos poliinsaturados. Tem muita gente que toma as cápsulas de ômega-3, por exemplo. Isso também tem na carne bovina. Então além disso, tem maior teor de vitamina E, que é um antioxidante natural. Então o que a gente observou? Que o conjunto de ácidos graxos saturados foram uniformes, não houve diferenças significativas entre o animal do campo nativo até o confinado. Ao mesmo tempo, o que começou a mudar? Exatamente a gordura boa, que é o poliinsaturado. O animal de pasto passava a ter o dobro (de gordura boa) do que o confinado”, analisou a médica veterinária.

De acordo com a pesquisadora, a descoberta evidencia uma oportunidade para o Brasil, cuja produção pecuária é baseada na engorda a pasto, comercializar carnes com diversos perfis nutricionais e agregar valor ao produto.

Artigo completo em: https://www.girodoboi.com.br/destaques/pecuaria-brasileira-pode-agregar-valor-a-carne-bovina-conforme-perfil-nutricional/

 

 

2.0 Conteúdo Técnico

Índices De Seleção Bioeconômicos

Para participar de um programa de melhoramento, o primeiro passo a ser dado pelo produtor de bovinos de corte é definir os objetivos de seleção, ou seja, as características que influenciam as receitas e despesas dentro do sistema produtivo, que poderão contribuir para aumentar o lucro da propriedade.

A obtenção dos objetivos deve ser realizada através dos seguintes pontos: a) especificação do sistema produtivo, mercado e reprodução; b) identificação das fontes de receita e despesas no rebanho; c) determinação das características biológicas que influenciam os rendimentos e despesas e; d) estimação dos valores econômicos para cada característica que irá compor os objetivos de seleção.

A ponderação relativa, ou seja, a importância de cada objetivo de seleção dentro do sistema produtivo deve ser determinada e depende da importância econômica, potencial ganho genético, correlações genéticas com outras características e os custos de medição, com mão-de-obra, instalações e tempo.

Após a definição dos objetivos, deve-se então avaliar quais os critérios de seleção serão utilizados para atingir estes objetivos. Os critérios de seleção são as características medidas e usadas na estimação dos valores genéticos dos animais, dentro dos programas de melhoramento, a fim de observar quais são os melhores indivíduos para cada característica avaliada. Os critérios devem ser de fácil mensuração, apresentar variabilidade genética e fenotípico ou genético de uma característica por vez.

Os modelos usados para o cálculo dos valores econômicos e construção dos índices de seleção apresentam várias equações, representando relações biológicas, de manejo, gestão e econômicas do sistema produtivo, o que exige uma grande quantidade de informações para descrever corretamente o ambiente, o gerenciamento, a produção e os fatores econômicos do sistema como um todo. Além da obtenção desses dados junto aos produtores ser difícil, estes modelos normalmente são projetados para simular sistemas de produção muito específicos e, consequentemente, que não se adequam para outros sistemas de produção.

A construção de um índice de seleção pode ser realizada a partir da obtenção de informações fenotípicas (desvio padrão para cada característica, correlações fenotípicas entre cada par de características e correlações fenotípicas entre as características de parentes) e genéticas (variância genética aditiva de cada característica e correlações genéticas entre cada par de características). Assim, tendo-se os objetivos e critérios de seleção bem definidos e os componentes de (co)variâncias genéticas e fenotípicas entre as características estimados, pode-se desenvolver os índices de seleção.

A classificação dos índices de seleção pode ser realizada com base no produto a ser comercializado pelo produtor de bovinos de corte, sendo divididos em: índice terminal, índice de cria/recria e índice de ciclo completo de produção.

O índice terminal, em geral, concentra-se na venda de carcaças com base na qualidade e rendimento, ou seja, as fêmeas não são mantidas para reposição. Normalmente, esses índices assumem que somente vacas adultas serão acasaladas e não é dada ênfase para características ligadas à facilidade de parto. Um componente importante da rentabilidade em um índice terminal é a eficiência alimentar, dada pela relação ingestão x ganho. Esses índices geralmente são usados para selecionar touros para uso comercial quando é assumido que todos os bezerros serão comercializados como animal/carcaça acabados.

O índice de cria/recria, é utilizado por muitos criadores comerciais, em que o desmame ou ano é o período de comercialização dos animais. Além disso, muitos produtores mantêm suas próprias novilhas para a reposição do rebanho. Atualmente, poucos índices são projetados para atender especificamente a este esquema de produção, embora represente o maior segmento da indústria de carne bovina. Alguns índices de ciclo completo podem atender a essa demanda, especialmente se o índice enfatizar características reprodutivas. Se for esse o caso, os produtores comerciais de vaca/bezerro poderiam usar o índice de ciclo completo para selecionar touros que satisfariam seus fluxos de custos e receitas, ao mesmo tempo em que poderia ser dada alguma ênfase em características de confinamento e carcaça para melhor remuneração. Esses índices são para produtores que vendem bezerros desmamados ou de desempenho inferior e mantêm as novilhas de substituição.

O índice de ciclo completo considera todo o sistema da cria até o abate dos animais, assumindo que o produto final é a venda de carcaças, no entanto, assume-se que as fêmeas serão mantidas para reposição. Nestes índices normalmente são inclusas características ligadas à facilidade de parto e fertilidade para as fêmeas e qualidade de carcaça. A eficiência alimentar ou a ingestão alimentar estão ausentes na maioria dos índices. Uma vez que os índices de ciclo completo incluem todo o sistema de produção e incluem um maior número de características, o risco da seleção é diluído, tornando os índices mais estáveis, mantendo o equilíbrio produtivo e reprodutivo do rebanho.

Alguns países como África do Sul, Austrália, Argentina, Estados Unidos, Namibia, Nova Zelândia e Reino Unido usam em seus programas de melhoramento índices bioeconômicos calculados adequadamente para raças taurinas e zebuínas e diferentes objetivos de seleção. Recentemente, estudos têm proposto inclusive a inclusão de características de difícil mensuração na formação dos índices, como a emissão de gases de efeito estufa, uma vez que o melhoramento genético tem potencial permanente e cumulativo para aumentar os ganhos em características que reduzam a emissão destes gases por unidade do produto.

No Brasil, em 2015, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) incluiu o Mérito Genético Total Econômico (MGTe) nos sumários de avaliação genética de raças zebuínas, valor este obtido por um índice bioeconômico baseado em uma fazenda padrão da região Centro Oeste brasileiro. O MGTe contempla características de precocidade, fertilidade, ganho de peso e de carcaça em sua formação. Em fevereiro de 2022, a ANCP apresentou quatro novos índices, divididos em: MGTe_CR: voltado a sistemas de produção que priorizam a cria, MGTe_RE: direcionado a sistemas de recria e engorda com terminação a pasto, MGTe_CO: voltado a sistemas de recria e engorda com terminação em confinamento e o MGTe_F1: para sistemas de recria e engorda de animais cruzados com terminação em confinamento.

A vantagem na utilização de índices bioeconômicos de seleção está na ponderação das características que serão utilizadas no procedimento de seleção pelo seu valor econômico dentro do sistema avaliado, maximizando o lucro. Assim, visando otimizar a rentabilidade da propriedade, a seleção utilizando índices que contenham valores econômicos calculados adequadamente com base no sistema de produção utilizado pelo produtor é necessária, permitindo que este tome decisões de forma adequada, considerando as características mais relevantes do ponto de vista econômico para seu sistema produtivo e identificando animais mais rentáveis.

Autora: Juliana Varchaki Portes. Analista técnica de Serviços – Customer Care – CRV. Zootecnista (UFPR), Dra. em melhoramento genético animal (UFRGS).